2 Cavalos de Turim – Joana Bértholo & Rui de Almeida Paiva
A relação cinema-literatura parece por vezes uma via de sentido único. É frequente a adaptação de romances a filmes, mas mais raro o inverso.
Dois escritores, Joana Bértholo e Rui de Almeida Paiva, sentam-se então perante um filme — O Cavalo de Turim (2011) de Béla Tarr —, e escrevem. Não se trata apenas de usar o estímulo das imagens em movimento, nem do som, como inspiração para um texto, mas de se aproximar tanto quanto possível da ideia de adaptação, da mesma forma que um cineasta leria um livro a partir do qual pretende fazer um filme.
Virginia Woolf, em “The movies and reality” (1926), diz-nos o seguinte:
«(…) os cineastas parecem insatisfeitos com fontes de interesse tão óbvias como a passagem do tempo e a dimensão sugestiva da realidade. Desprezam a fuga das gaivotas, os navios no Tamisa, o Príncipe de Gales, a Mile End Road, Piccadilly Circus. Eles querem melhorar, alterar, fazer a sua própria arte – naturalmente, pois muito parece estar ao seu alcance. Muitas outras artes pareciam prontas para oferecer a sua ajuda. Por exemplo, havia a literatura. Todos os romances famosos do mundo, com os seus personagens bem conhecidos, e as suas cenas famosas, apenas pediam, ao que parecia, para serem colocados nos filmes. O que poderia ser mais fácil e simples? O cinema caiu sobre a sua presa com imensa rapacidade e, até ao momento, subsiste em grande parte a partir do corpo da sua infeliz vítima.»
O cinema e a literatura, desde o início da sua coexistência, como demonstra o texto de Woolf, são práticas que ora cooperam ora competem enquanto reflexos potentes da realidade. Contudo, quando falamos de cooperação, em particular nos processos de adaptação, parece só existir uma via possível: o cinema a olhar para a literatura.
A adaptação é um processo canónico que corresponde à utilização de uma obra para a criação de uma outra obra original. Qualquer adaptação engendra uma força tensional: entre a dependência e a libertação da fonte original, entre o familiar e o novo, entre as semelhanças e as diferenças. Contudo, a nova criação é sempre uma revisão da obra adaptada e implica um determinado grau de compromisso. Cada obra que resulta de um processo de adaptação é, deste modo, um palimpsesto – uma obra escrita por cima de outra obra –, e reclama a memória da sua fonte para mais tarde a fazer ressoar ou ecoar na memória de quem a recebe.
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15,00€
Informação adicional
Autores | |
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Ano de Edição | 2020 |
Encadernação | Capa Mole |
Idioma | |
Páginas | 160 |
ISBN |
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